Quase um ano depois dos deslizamentos que mataram 54 pessoas em Angra dos Reis, as marcas do desastre continuam presentes em meio à paisagem deslumbrante da região — e pouco foi feito para evitar novas calamidades.
As fortes chuvas do início da semana passada deixaram seus rastros por Angra dos Reis. Entre segunda (6) e terça-feira, foram registrados sete deslizamentos de terra e quatro enchentes no município. Seis casas localizadas no Morro da Fortaleza foram interditadas e os moradores removidos por risco de desabamento. No bairro da Enseada, as ruas foram bloqueadas por uma massa de lama que escorreu das encostas, e uma estrada local foi fechada no Morro da Glória por oferecer perigo aos motoristas. Na Rio-Santos (BR-101), principal via de acesso, quatro barrancos despencaram e um deles, localizado no quilômetro 462, levou à interrupção do tráfego por duas horas. Apesar dos estragos, o efeito mais nefasto dos recentes temporais não foram as implicações materiais. A mistura de barro, pedras e vegetação que despencou das montanhas reviveu um espectro que ronda a região. Há pouco menos de um ano, em meio às comemorações do réveillon, a cidade assistiu a algumas das piores cenas de sua história. Depois de duas semanas seguidas de temporais, a terra encharcada no alto dos morros se descolou da rocha e começou a descer em furiosas avalanches que destruíram o que havia no caminho. Cinquenta e quatro pessoas morreram, boa parte delas composta de turistas que aproveitavam o feriado de Ano-Novo para curtir as maravilhas do lugar. Desde então, feias cicatrizes seguem abertas em meio à paisagem pontilhada por 2.000 praias e mais de 300 ilhas paradisíacas. “Estamos um ano atrasados e, infelizmente, ainda vamos demorar mais seis meses para recuperar tudo”, diz o secretário municipal de Meio Ambiente, Marco Aurélio Vargas.
A sinceridade choca, mas seria impossível esconder a verdade. Não é preciso ser um observador arguto para perceber que a situação é preocupante. Mesmo antes dos temporais do início da semana, o cenário em Angra já era complicado. Na Rio-Santos, boa parte dos 34 pontos de desmoronamento ocorridos no ano passado ainda não foi reparada. Um desavisado que passar por ali correrá o risco de pensar que eles surgiram agora, com as últimas chuvas — e não em janeiro. Em aproximadamente dez pontos, a pista está tomada por canteiros de obras. Em alguns deles, o fluxo de trânsito funciona no esquema “siga e pare”, em que os motoristas se revezam numa única pista nos dois sentidos. Nesses locais, corre-se contra o tempo para a recuperação ser concluída o mais breve possível. Mas poucas pessoas acreditam nisso. Entre moradores, hoteleiros e políticos, a impressão é a mesma: a estação mais esperada do ano está chegando muito cedo. O melhor seria que o calendário pulasse de dezembro para julho ou agosto de 2011. Parece brincadeira, mas se trata de descaso e pouca- vergonha mesmo. Depois de tudo o que aconteceu, a prefeitura ainda não possui sequer um mapa com todas as áreas de risco assinaladas. O documento começou a ser rascunhado recentemente, no dia 5 de novembro, e precisará de no mínimo oito meses para ser concluído.
Pródiga em casas magníficas, iates dos mais variados calados e revoadas de helicópteros lotados de celebridades e milionários, Angra tem revelado uma outra faceta: a ineficiência de seus governantes. Tudo o que diz respeito à recuperação das tragédias de janeiro, sem exceção, patina em meio a delongas. Dos trabalhos de contenção nos morros da Carioca, Glória, Carmo, São Bento e Bonfim, só foi feito um terço do previsto, segundo a própria Secretaria Estadual de Obras. No Morro do Tatu, uma das áreas atingidas, os projetos estão todos no papel. Mesmo a construção de apartamentos com 42 metros quadrados para as 1 325 pessoas que tiveram sua casa engolida pela terra ou interditada segue a passos de cágado manco. Pelo planejamento inicial, 800 moradias deveriam ser entregues até este mês. Apenas 140, menos de 20%, ficarão prontas. Na Praia do Bananal, na Ilha Grande, tristemente célebre pelas 31 mortes que ocorreram na noite do Ano-Novo, as ruínas da extinta Pousada Sankay dão o toque macabro à paisagem. Ali, cruzes marcam o lugar onde morreram três jovens, entre eles a filha dos donos, Yumi Imanichi Faraci, de 18 anos. Em agosto, a prefeitura anunciou que demoliria o que restou da tragédia. Até agora, nada. “Não tem jeito, todo mundo que passa por aqui e vê as ruínas lembra do fatídico episódio. É muito triste”, diz Kiyoshi Nakamashi, 51 anos, dono da Pousada do Preto, localizada a 500 metros da Sankay. Ele perdeu um sobrinho de 24 anos na tragédia. “Depois do acidente, o turismo praticamente acabou deste lado da ilha. Ficamos às moscas”, conta.
Entre todas as atividades econômicas da cidade, o turismo é sem dúvida a mais afetada — e também a mais prejudicada pelos atrasos. Em média, o setor movimenta 300 milhões de reais por ano. Desde a catástrofe, esse valor caiu pela metade. Pode-se dizer que a hotelaria local vive um estado de anemia profunda. Das pousadas mais singelas aos resorts de alto padrão, ninguém escapou da queda do número de hóspedes. O caso do luxuoso hotel Novo Frade é notável. Lá, os 500 leitos tinham uma taxa de ocupação quase total, principalmente por participantes de convenções. Em 2010, porém, o número de reservas caiu mais de 30%, provocando perdas de 8 milhões de reais. “Foi o pior ano da nossa história”, lamenta a gerente-geral Fabiana França. A míngua de turistas também chegou ao resort da rede Pestana, grupo português com 42 unidades espalhadas pelo mundo. Nem as tarifas promocionais evitaram a debandada dos hóspedes e uma queda de 50% no movimento em comparação com 2009. “Este é um ano para esquecer”, resume Mark Birchall, gerente operacional do Pestana. A má fase afetou inclusive prestadores de serviços como o barqueiro Gilson Honorato, de 60 anos, que faz a travessia Angra-Ilha Grande. Foi ele quem transportou um grupo de quinze turistas do interior de São Paulo que morreu nos deslizamentos da Praia do Bananal. “Nos meses de alta temporada, eu chegava a ganhar 4 000 reais por mês. Neste ano horroroso, cheguei ao cúmulo de receber apenas 300.”
A situação torna-se ainda mais bizarra por tratar-se de uma das cidades mais importantes do estado. Para se ter uma idéia de sua relevância, o município de 150 000 habitantes foi, entre janeiro e outubro, o maior exportador de petróleo do país em volume de vendas, com um total de 6,9 bilhões de reais no período. Tal performance se explica pelo fato de por ali escoar quase todo o petróleo produzido em solo nacional, entre outras commodities, como aço, por exemplo. Também segue firme a indústria naval, com estaleiros como o Bras Fels, no qual são produzidas plataformas de petróleo para a exploração da Bacia de Campos. Em efervescência, a construção civil se beneficia das obras da usina nuclear de Angra 3, na Praia de Itaorna. Essa pujança econômica, no entanto, não tem motivado uma reação política à altura. Depois dos infortúnios, encenou-se um minueto bem ensaiado. As autoridades visitaram as áreas afetadas, lamentaram o episódio, fizeram discursos emocionantes e prometeram recursos emergenciais. O governo federal chegou a dizer que em quinze dias liberaria os recursos necessários. Mas o percurso do repasse de verbas, cujo montante é de 164 milhões de reais, tem sido extenuante e moroso. Resultado: a primeira parte, de quase 100 milhões, demorou quatro meses para cair na conta do governo estadual. Só então as primeiras intervenções começaram, lentamente, a sair do papel.
Pôr o plano de recuperação em andamento e estruturar um programa de prevenção é apenas o começo. Em paralelo, as autoridades precisam implantar um rigorosíssimo plano de monitoramento da ocupação urbana — tanto em favelas como nas casas de luxo. Na cidade, o desrespeito às regras não é exclusividade de nenhuma classe social. Mesmo. Estima-se que cerca de 30% das construções irregulares sejam realizadas por proprietários de alto poder aquisitivo. Por uma obrigação legal, a prefeitura deveria apertar o cerco contra os transgressores. Um termo firmado no início do ano com o Ministério Público Estadual determina que, a cada novo imóvel erguido em área imprópria, o município seja penalizado em 50 000 reais. “Estamos atentos”, afirma o promotor de Justiça Sidney Rosa da Silva Junior, responsável por um inquérito que apura se isso vem sendo feito. Até agora nenhuma multa foi aplicada, o que não significa que a expansão irregular tenha cessado. Conter os abusos virou necessidade em uma área urbana espremida entre o mar e as montanhas, onde a falta de espaço é crônica e que, há trinta anos, sofre com a contínua migração de mão de obra desqualificada em busca de emprego. “Com a retomada da usina, a cidade voltou a ser invadida em um ritmo que só vimos na década de 70”, alerta o secretário Marco Aurélio Vargas.
Embora as dificuldades sejam muitas, em termos de paisagem Angra continua uma espécie de sucursal do paraíso. Com seu deslumbrante mar esverdeado repleto de ilhas de todos os tamanhos, não há dúvida de que ela voltará a ocupar posição de destaque como destino de férias dos cariocas e de turistas de todos os pontos do Brasil. Personalidades como o cirurgião plástico Ivo Pitanguy, os apresentadores Luciano Huck e Angélica, os empresários José Bonifácio de Oliveira Sobrinho e Alexandre Accioly, todos proprietários de casas — e que casas —, às quais chegam de helicóptero, seguem aproveitando a doce privacidade que desfrutam. Mesmo entre os frequentadores da parte continental do município, os mais prejudicados pela demora nas obras de recuperação, há os que não abrem mão das temporadas em meio ao cenário de beleza hipnotizante. “A estrada está péssima, mas este continua sendo um lugar perfeito para recarregar as baterias”, diz o publicitário carioca Marcio Luiz Borges, 38 anos. Hospedado em um hotel de luxo, ele fazia sua quarta visita apenas em 2010. “Cada vez que venho para cá, torço para que a cidade se recupere logo de tudo o que aconteceu.” Resta ao poder público realizar sua parte e recuperar o atraso nas providências que já deveriam ter sido tomadas para que os visitantes continuem a usufruir a estupenda combinação de mar, montanhas e florestas que faz de Angra dos Reis um dos lugares mais lindos do país.
As fortes chuvas do início da semana passada deixaram seus rastros por Angra dos Reis. Entre segunda (6) e terça-feira, foram registrados sete deslizamentos de terra e quatro enchentes no município. Seis casas localizadas no Morro da Fortaleza foram interditadas e os moradores removidos por risco de desabamento. No bairro da Enseada, as ruas foram bloqueadas por uma massa de lama que escorreu das encostas, e uma estrada local foi fechada no Morro da Glória por oferecer perigo aos motoristas. Na Rio-Santos (BR-101), principal via de acesso, quatro barrancos despencaram e um deles, localizado no quilômetro 462, levou à interrupção do tráfego por duas horas. Apesar dos estragos, o efeito mais nefasto dos recentes temporais não foram as implicações materiais. A mistura de barro, pedras e vegetação que despencou das montanhas reviveu um espectro que ronda a região. Há pouco menos de um ano, em meio às comemorações do réveillon, a cidade assistiu a algumas das piores cenas de sua história. Depois de duas semanas seguidas de temporais, a terra encharcada no alto dos morros se descolou da rocha e começou a descer em furiosas avalanches que destruíram o que havia no caminho. Cinquenta e quatro pessoas morreram, boa parte delas composta de turistas que aproveitavam o feriado de Ano-Novo para curtir as maravilhas do lugar. Desde então, feias cicatrizes seguem abertas em meio à paisagem pontilhada por 2.000 praias e mais de 300 ilhas paradisíacas. “Estamos um ano atrasados e, infelizmente, ainda vamos demorar mais seis meses para recuperar tudo”, diz o secretário municipal de Meio Ambiente, Marco Aurélio Vargas.
A sinceridade choca, mas seria impossível esconder a verdade. Não é preciso ser um observador arguto para perceber que a situação é preocupante. Mesmo antes dos temporais do início da semana, o cenário em Angra já era complicado. Na Rio-Santos, boa parte dos 34 pontos de desmoronamento ocorridos no ano passado ainda não foi reparada. Um desavisado que passar por ali correrá o risco de pensar que eles surgiram agora, com as últimas chuvas — e não em janeiro. Em aproximadamente dez pontos, a pista está tomada por canteiros de obras. Em alguns deles, o fluxo de trânsito funciona no esquema “siga e pare”, em que os motoristas se revezam numa única pista nos dois sentidos. Nesses locais, corre-se contra o tempo para a recuperação ser concluída o mais breve possível. Mas poucas pessoas acreditam nisso. Entre moradores, hoteleiros e políticos, a impressão é a mesma: a estação mais esperada do ano está chegando muito cedo. O melhor seria que o calendário pulasse de dezembro para julho ou agosto de 2011. Parece brincadeira, mas se trata de descaso e pouca- vergonha mesmo. Depois de tudo o que aconteceu, a prefeitura ainda não possui sequer um mapa com todas as áreas de risco assinaladas. O documento começou a ser rascunhado recentemente, no dia 5 de novembro, e precisará de no mínimo oito meses para ser concluído.
Pródiga em casas magníficas, iates dos mais variados calados e revoadas de helicópteros lotados de celebridades e milionários, Angra tem revelado uma outra faceta: a ineficiência de seus governantes. Tudo o que diz respeito à recuperação das tragédias de janeiro, sem exceção, patina em meio a delongas. Dos trabalhos de contenção nos morros da Carioca, Glória, Carmo, São Bento e Bonfim, só foi feito um terço do previsto, segundo a própria Secretaria Estadual de Obras. No Morro do Tatu, uma das áreas atingidas, os projetos estão todos no papel. Mesmo a construção de apartamentos com 42 metros quadrados para as 1 325 pessoas que tiveram sua casa engolida pela terra ou interditada segue a passos de cágado manco. Pelo planejamento inicial, 800 moradias deveriam ser entregues até este mês. Apenas 140, menos de 20%, ficarão prontas. Na Praia do Bananal, na Ilha Grande, tristemente célebre pelas 31 mortes que ocorreram na noite do Ano-Novo, as ruínas da extinta Pousada Sankay dão o toque macabro à paisagem. Ali, cruzes marcam o lugar onde morreram três jovens, entre eles a filha dos donos, Yumi Imanichi Faraci, de 18 anos. Em agosto, a prefeitura anunciou que demoliria o que restou da tragédia. Até agora, nada. “Não tem jeito, todo mundo que passa por aqui e vê as ruínas lembra do fatídico episódio. É muito triste”, diz Kiyoshi Nakamashi, 51 anos, dono da Pousada do Preto, localizada a 500 metros da Sankay. Ele perdeu um sobrinho de 24 anos na tragédia. “Depois do acidente, o turismo praticamente acabou deste lado da ilha. Ficamos às moscas”, conta.
Entre todas as atividades econômicas da cidade, o turismo é sem dúvida a mais afetada — e também a mais prejudicada pelos atrasos. Em média, o setor movimenta 300 milhões de reais por ano. Desde a catástrofe, esse valor caiu pela metade. Pode-se dizer que a hotelaria local vive um estado de anemia profunda. Das pousadas mais singelas aos resorts de alto padrão, ninguém escapou da queda do número de hóspedes. O caso do luxuoso hotel Novo Frade é notável. Lá, os 500 leitos tinham uma taxa de ocupação quase total, principalmente por participantes de convenções. Em 2010, porém, o número de reservas caiu mais de 30%, provocando perdas de 8 milhões de reais. “Foi o pior ano da nossa história”, lamenta a gerente-geral Fabiana França. A míngua de turistas também chegou ao resort da rede Pestana, grupo português com 42 unidades espalhadas pelo mundo. Nem as tarifas promocionais evitaram a debandada dos hóspedes e uma queda de 50% no movimento em comparação com 2009. “Este é um ano para esquecer”, resume Mark Birchall, gerente operacional do Pestana. A má fase afetou inclusive prestadores de serviços como o barqueiro Gilson Honorato, de 60 anos, que faz a travessia Angra-Ilha Grande. Foi ele quem transportou um grupo de quinze turistas do interior de São Paulo que morreu nos deslizamentos da Praia do Bananal. “Nos meses de alta temporada, eu chegava a ganhar 4 000 reais por mês. Neste ano horroroso, cheguei ao cúmulo de receber apenas 300.”
A situação torna-se ainda mais bizarra por tratar-se de uma das cidades mais importantes do estado. Para se ter uma idéia de sua relevância, o município de 150 000 habitantes foi, entre janeiro e outubro, o maior exportador de petróleo do país em volume de vendas, com um total de 6,9 bilhões de reais no período. Tal performance se explica pelo fato de por ali escoar quase todo o petróleo produzido em solo nacional, entre outras commodities, como aço, por exemplo. Também segue firme a indústria naval, com estaleiros como o Bras Fels, no qual são produzidas plataformas de petróleo para a exploração da Bacia de Campos. Em efervescência, a construção civil se beneficia das obras da usina nuclear de Angra 3, na Praia de Itaorna. Essa pujança econômica, no entanto, não tem motivado uma reação política à altura. Depois dos infortúnios, encenou-se um minueto bem ensaiado. As autoridades visitaram as áreas afetadas, lamentaram o episódio, fizeram discursos emocionantes e prometeram recursos emergenciais. O governo federal chegou a dizer que em quinze dias liberaria os recursos necessários. Mas o percurso do repasse de verbas, cujo montante é de 164 milhões de reais, tem sido extenuante e moroso. Resultado: a primeira parte, de quase 100 milhões, demorou quatro meses para cair na conta do governo estadual. Só então as primeiras intervenções começaram, lentamente, a sair do papel.
Pôr o plano de recuperação em andamento e estruturar um programa de prevenção é apenas o começo. Em paralelo, as autoridades precisam implantar um rigorosíssimo plano de monitoramento da ocupação urbana — tanto em favelas como nas casas de luxo. Na cidade, o desrespeito às regras não é exclusividade de nenhuma classe social. Mesmo. Estima-se que cerca de 30% das construções irregulares sejam realizadas por proprietários de alto poder aquisitivo. Por uma obrigação legal, a prefeitura deveria apertar o cerco contra os transgressores. Um termo firmado no início do ano com o Ministério Público Estadual determina que, a cada novo imóvel erguido em área imprópria, o município seja penalizado em 50 000 reais. “Estamos atentos”, afirma o promotor de Justiça Sidney Rosa da Silva Junior, responsável por um inquérito que apura se isso vem sendo feito. Até agora nenhuma multa foi aplicada, o que não significa que a expansão irregular tenha cessado. Conter os abusos virou necessidade em uma área urbana espremida entre o mar e as montanhas, onde a falta de espaço é crônica e que, há trinta anos, sofre com a contínua migração de mão de obra desqualificada em busca de emprego. “Com a retomada da usina, a cidade voltou a ser invadida em um ritmo que só vimos na década de 70”, alerta o secretário Marco Aurélio Vargas.
Embora as dificuldades sejam muitas, em termos de paisagem Angra continua uma espécie de sucursal do paraíso. Com seu deslumbrante mar esverdeado repleto de ilhas de todos os tamanhos, não há dúvida de que ela voltará a ocupar posição de destaque como destino de férias dos cariocas e de turistas de todos os pontos do Brasil. Personalidades como o cirurgião plástico Ivo Pitanguy, os apresentadores Luciano Huck e Angélica, os empresários José Bonifácio de Oliveira Sobrinho e Alexandre Accioly, todos proprietários de casas — e que casas —, às quais chegam de helicóptero, seguem aproveitando a doce privacidade que desfrutam. Mesmo entre os frequentadores da parte continental do município, os mais prejudicados pela demora nas obras de recuperação, há os que não abrem mão das temporadas em meio ao cenário de beleza hipnotizante. “A estrada está péssima, mas este continua sendo um lugar perfeito para recarregar as baterias”, diz o publicitário carioca Marcio Luiz Borges, 38 anos. Hospedado em um hotel de luxo, ele fazia sua quarta visita apenas em 2010. “Cada vez que venho para cá, torço para que a cidade se recupere logo de tudo o que aconteceu.” Resta ao poder público realizar sua parte e recuperar o atraso nas providências que já deveriam ter sido tomadas para que os visitantes continuem a usufruir a estupenda combinação de mar, montanhas e florestas que faz de Angra dos Reis um dos lugares mais lindos do país.
15/12/2010 - Especial - A tragédia pode se repetir - Caio Barretto Briso - Fotos Felipe Fittipaldi
Abraços
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